setembro 24, 2013

Amores possíveis?

Hoje eu estava pensando no significado da expressão 'amores possíveis'.

Logo de cara, me veio a definição normal da coisa. De bate pronto, eu imaginei que um amor possível é aquele que dá pra acontecer, que tem uma chance, uma possibilidade real. Um que não seja platônico. É a concessão da realidade, aplicada aos relacionamentos. Por que não? Afinal, a gente abre concessão pra tudo na vida: tem o 'carro possível', o 'emprego possível', a 'vida possível'. . . Sempre 'o melhor que dá'. O amor possível é a extensão realista, coisa de quem tem o pé no chão. É comprar um popular e não dar asas ao sonho de ter uma Ferrari, porque, convenhamos, você sabe o quanto tem na conta.

Quem sabe não é melhor assim? A gente tenta com tantas pessoas, tantos possíveis pretendentes, pessoas que conhecemos, que trabalhamos junto, que conversamos na internet, que são nossos vizinhos, amigos de amigos. . . A chance de encontrar alguém que nos complete é bem razoável. Tudo bem que é maior ainda é a chance da gente se decepcionar com alguém. Ou simplesmente não se interessar. Afinal, pra esse mundão de gente, tem um, talvez dois - ok, digamos três; depois de dois divórcios, certo, Ross? - que a gente ache que é pra sempre. Pelo menos até não ser mais.

E então, pra não sonhar com a Ferrari, digo, com aquela alma gêmea, a gente faz alguns planos, e aceita a realidade como ela é. E no mundo real não tem príncipe encantado: tem o amor possível. Tem aquela mulher que não é linda, mas pelo menos não é feia. Que se cuida um pouco. Ou você ainda não chegou no consenso do nome do filho de vocês - talvez ele nem queira um, você não sabe - mas os dois gostam de comida japonesa. E ele sabe comer de hashi. Por enquanto, dá pra seguir. É o possível.

Isso deve funcionar pra muita gente. Você leva uma vida da melhor maneira possível. 'Possível' no sentido de contrário de impossível mesmo, no sentido de "sonho tem esse nome porque ele não é real e não acontece a não ser quando dormimos".

Mas pra mim, o amor não é coisa de manter o pé no chão. Pra mim, ele é coisa de fazer voar. De se jogar do quinquagésimo andar e cair flutuando que nem pena no colo do amado, se aninhando. Eu sou dos que sonham. Dos que fazem contas com dinheiro inexistente pra comprar a Ferrari. Que faz contas com o dinheiro nunca recebido da Mega Sena.

Um 'amor possível' é um paradoxo. Pelo menos na minha opinião.

Porque oras, o amor é a expressão máxima do impossível. Tem gente que se mata por amor, pensando em ficar vivos! Esse montão de música aí afora não pode estar errado. O amor é como o oxigênio. Love lifts us up where we belong. All you need is love!

Se você acha isso bobagem, eu vou tentar ilustrar de outra maneira: você se lembra quando eramos crianças, porquê todos nós admirávamos atletas? (se você respondeu "porque eles comem modelos", saiba que isso é porque NÓS, adultos, gostamos deles).

Quando se é criança, você gosta de um atleta porque eles seguem os sonhos deles. Porque aquele cara tá ali, fazendo o que você por enquanto só sonha. Eles fazem o impossível, possível.

Eu não quero um amor possível. Eu não quero concordar nas coisas pequenas. Eu quero concordância nas grandes, nas importantes. Quero alguém perfeito. Não alguém sem defeitos, utópico: mas aquela perfeita pra mim. Aquela em que a maquiagem borrada suja o rosto, mas não o caráter. Eu quero dar um beijo e ouvir a torcida gritando meu nome. Que toque trilha sonora quando rolar o abraço na chuva.

Pra mim, todo amor de verdade é impossível. Afinal, como pode ser fogo que arde sem se ver? Como pode uma coisa real ser ferida que dói e não se sente? Um contentamento descontente? Um andar solitário entre a gente?

Amor é paradoxo. É impossibilidade. É tudo. Só não pode morrer na sombra do real.

Pensando bem, acho que essa é uma preocupação besta: deve também ser impossível matar o amor.

Um comentário:

Liodiariodali disse...

Li, e só tô deixando um comentário porque tá escrito aqui "Postar um comentário. Esse é o SEU espaço" :) meu amor. :*