agosto 02, 2010

Muita coisa junta! Old texts 4!

Blog, eu tenho sido desleixado!

Não consigo administrar meu tempo... com tanta coisa acontecendo, eu acabo me
atrasando aqui.

Acontece que o trabalho anda ocupando muito do tempo que eu fico no PC - já que eu ainda to sem computador em casa. Mundo injusto esse em que eu tenho que trabalhar no meu local de trabalho, e não posto em paz!

Enfim, aí fica fácil de colocar coisas mais antigas... então, mais por necessidade do que por gosto pessoal, mais revivals.

Abaixo, mais um texto sobre Matrix!


SAINDO DO NOSSO MUNDINHO

Fodafodafoda! – Peter gritava enquanto corria, segurando o celular com força.

Um minuto antes, havia achado o aparelho em sua mochila. Até então era um dia normal da sua vidinha de merda. Todos achavam Peter só mais um nerd, mas ele sabia que não. Mas não sabia explicar o que conhecia, não tinha palavras pro que sentia. Tentaram classificar isso como um problema psicológico, como alguém que não se encaixava. Um deslocado. Já Peter tinha certeza que o problema era com o mundo e não com ele, mas claro, era assim que todos os problemáticos pensavam.
Só que hoje, Peter tinha razão.

Estava indo para o seu colégio quando o celular tocou. Achou estranho, pois era um toque diferente do seu Motorola, que gritava Linkin Park quando alguém ligava. Era um zunido baixo e simples. Vasculhou a mochila e achou um telefone novo! Putz, alguém esqueceu isso aqui, ou confundiu minha mochila. A pior coisa que ele queria hoje era ter que sair do seu trajeto pra devolver algo esquecido a alguém. Mesmo assim, atendeu enquanto subia para o ônibus.

- Alô? (Quer ver que é algum burro que confundiu minha mochila ontem?)

- É um prazer, Mercury. – a voz era plácida, porém urgente.
Peter gelou ao ouvir esse nome. “Mercury”. Era seu "nick" na Internet. Ele nunca contou pra ninguém sobre aquilo! Quando invadia sistemas, trocava filmes no Corujão, quando roubava poucos dólares... sempre assinava como Mercury e deixava um par de asas como Avatar. Vinha de Hermes, aquele que os romanos renomearam como Mercúrio, deus dos ladrões e símbolo da liberdade. Ninguém sabia que ele era “O” Mercury!

- Não tem ninguém com esse nom...

- Não temos tempo a perder, Mercury. Sei quem você é, e sei o que você sente. Hoje é o dia das respostas, mas assim o será se você não perder ou desperdiçar tempo algum. – a voz era firme sem ser ríspida.

- Mas, cara... De que porra ce ta falando?! – Mercury achava que ia chorar. Ia preso, com certeza. – Esse celular nem é meu!

- Um amigo o pos aí para que pudéssemos conversar. Meu nome é Orion. Eu pedi que ele fizesse isso, pois hoje é o dia de sua liberdade. É o dia em que você pode escolher viver em liberdade, assim como os romanos, ou continuar a vida de servitude que leva, assim como os povos que eles conquistaram.

Mercury sabia que era loucura, mas algo em seu intimo parecia nublar a lógica de sua mente. E daí que ele não sabia quem era? Com certeza o cara sabia bastante sobre ele. E se quisesse mesmo fazer algum mal, teria colocado uma bomba em sua mochila, e adeus Peter. Mesmo assim, sentia que o homem não mentia em nada do que falava. Disse:

- Estou ouvindo.

- Ótimo – a voz continuou – agora vem à parte difícil. Alguns homens vão tentar te pegar, pessoas do governo. Eles sabem o mesmo que eu, e sabem sobre nós. Esse celular só vai permitir que falemos por um tempo sem que eles escutem a conversa.

- Você tem que fugir do ônibus. – a voz concluiu.

- Mas... tipo, ele está andando! Eu paro no próximo ponto então.

- Não há tempo.

No segundo em que a frase terminou, o ônibus deu uma freada brusca, fazendo os alunos irem para frente dando cabeçadas. Um carro preto estava parado transversalmente na frente do ônibus, impedindo a passagem. E dois homens estavam lá fora fazendo sinal para que o ônibus parasse; uma mão aberta e estendida em direção do vidro. Estática.

Os homens vestiam-se do que parecia ser o mesmo terno de um negro profundo, e estavam de óculos escuros. Mercury lembrou-se da CIA, da Gestapo, e de tudo que já ouviu sobre funcionários do governo. E viu que mesmo na frente do ônibus, eles olhavam para ele.

- Como eu saio daqui!? – gritou sem perceber, fazendo alguns alunos das fileiras de trás olharem espantados.

- Pelo vidro. Você vai ter que quebrá-lo. Saia pela traseira do ônibus e corra até a esquina.
Mercury levantou os olhos e viu que o primeiro homem já adentrava o ônibus. Ao perceber que foi visto, disse:

- Senhor Hutchinson, o senhor pode vir até aqui, por favor? – a voz era propositalmente comedida e implicava desagrado.

Por um momento, Peter e o homem de terno negro se entreolharam, num segundo que parecia durar uma eternidade. O telefone pendia próximo da boca de Mercury, que abaixava o braço quase que instintivamente, bem devagar.

- Agora!! – Orion gritava ao telefone para tirá-lo do transe.
No mesmo momento em que Peter girava o corpo, o homem começou a correr. Um chute bem colocado no vidro e este se trincou. O homem estava já na metade do ônibus; ele era rápido. Não havia tempo para hesitações, então o jovem se jogou contra a janela, exatamente a tempo de evitar a mão do homem em seu colarinho.

Rolou ao cair no chão, levando milhares de pedacinhos de vidro consigo. Levantou sem olhar pra cima, e começou a correr. Depois do segundo passo, achou estranho não ter ouvido ecos da sola de couro contra o asfalto, e então olhou por cima do ombro para ver o porquê não estava sendo seguido.

Foi quando viu a arma. Preta e brilhante. O homem simplesmente sacara uma pistola do casaco e mirava às suas costas! E não estava sozinho; o segundo homem de terno estava a seu lado, tendo sacado a sua pistola também.
Veio então o primeiro disparo. O medo da arma fez com que Mercury tropeçasse, e isso salvou sua vida. A bala passou rente ao seu ombro direito, que repentinamente caíra para apoiar a mão no chão da rua, evitando a queda.

Fodafodafoda! – Peter gritava enquanto corria, segurando o celular com força.

Correu até a fim da rua e ouviu mais disparos, mas o muro da esquina o protegera na hora certa. Uma nuvem de reboco atingiu-o nos olhos.

- Corra até o colégio de inglês! – Orion tentava passar calma pelo telefone, mas não estava conseguindo.

Mercury viu que a duas casas a seu lado havia uma escolinha de inglês. Passou a entrada enquanto a porta de vidro estourava devido a novos disparos. Os homens o seguiam, e atiravam enquanto corriam.

Correu até o final do corredor frontal, batendo de frente com outros dois alunos. Sua mochila se enroscou com o choque e ficou na cabeça do segundo aluno, que caia no chão. Mercury continuava frenético, segurando só o celular.

- Saia pela esquerda e entre no carro. – Orion parecia mais calmo.
Os dois alunos que caíram atrapalharam um pouco a velocidade dos homens, mas não sua vontade de atirar. Mesmo com os civis à frente, Peter pode ouvir pelo menos mais três tiros enquanto saia pelo que parecia ser um quintal que dava para a rua de trás.

Lá havia um carro parado, mas com o motor funcionando. Três pessoas estavam dentro dele e a porta do lado direito estava aberta. Eles esperavam por Peter.

Assim que ele apareceu na calçada, uma mulher com uma roupa inteira de couro e látex azul escuro gritou para que ele entrasse no carro. Peter mergulhou no assento traseiro. Na mesma hora, o homem que estava no assento do passageiro do banco da frente jogou algo pela janela. Peter achou ser uma granada e teve um pouco de medo ao ver que nem ia ter tempo de tapar os ouvidos. No fim, era uma granada de gás e o barulho que esperava foi substituído por um “poof” de fumaça cinzenta,
que encobria toda a passagem por aonde viera.

No mesmo momento em que a granada explodia, o pneu do carro cantava. Ainda ouviram-se alguns tiros na lataria, mas a mira já havia sido suficientemente prejudicada pelo gás. Logo os tiros cessaram.

Peter olhou para cima, e só então percebeu que pousara no colo da mulher. Ela era linda, e não devia ser cinco anos mais velha do que ele. Pra melhorar, ela sorria para ele, olhando para baixo como uma gata olha para a presa. Nesse momento a voz veio do celular:

- Boa, garoto. Não são muitos que escapam na primeira tentativa. Esse colo macio em que você está pertence à Cynder. Ela o trará a mim. – e assim a ligação se encerrava.

E pela primeira vez na vida, Peter achou que estava no lugar certo e na hora certa. Não só pelo fato de estar entre as pernas daquilo que parecia ser uma dócil e linda dominatrix, mas também porque um mundo novo se abria para ele, realmente. Nem mesmo pode conter um sorriso. Lembrou-se de uma frase da sua avó que morrera a pouco, e que foi o único ser humano que dava a mínima pra ele: “Algumas coisas a gente simplesmente sabe, Pete”.

E ele sabia estar livre, assim como seu nick. Nunca mais seria Peter. Daqui pra frente, era Mercury.

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