A Lei Coringa
Esse intervalo de tempo sem postar é porque eu viajei de novo à Fortaleza pra ver minha namorada. E nos 10 ótimos dias em que lá estive, entre outras coisas, vimos Batman - o Cavaleiro das Trevas no cinema. (cinema esse que dizia "O Cavalheiro das Trevas"... Hahaha! A gente ficava tirando uma de que o filme era "The Dark Gentleman", no original)
Se você não viu o filme, recomendo que vá. LOGO. E aproveite e pare de ler esse post, pois eu vou publicar alguns spoilers.
O Coringa é, no filme, como ele mesmo se denomina, um agente do caos. Seu passado não é contado a não ser pelas versões conflitantes que ele mesmo informa. O desafio que ele trás ao Batman e à própria Gotham City é em forma de testes de moral e em como resistir ao puro terror criado por um homem que não tem nada a perder; que busca apenas desestabilizar o status quo, mostrando que coisas como planos e regras - por mais grotescas que sejam - sempre são melhor aceitas do que a aleatoriedade pura. Mesmo que o plano seja idiota, as pessoas o aceitam por pura apatia, já que planejamentos são mais reconfortantes do que o sentimento do caos instaurado. Ou ao menos é o que ele acha.
E essa linha de raciocínio, sem motivo algum que não o mais puro processo inconsciente, me fez pensar nessa nova lei seca.
"Lei seca?", você pergunta. E sim, eu digo. Uma lei dessas me parece ser um exemplo de coisa exdrúxula que o povo aceita só porque "it's all part of the plan", como o palhaço do crime diz. Sabe, minha mãe e meus professores fizeram questão de perder um baita de um tempo tentando me ensinar o significado de tolerância, para que venha uma lei com o apelido de "tolerância zero"? Bah!
Pra quem não sabe, a palavra vem do latim tolerare, e significa sustentar, suportar. O termo define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Daí vem a famosa tolerância a dor, por exemplo. Já uma "tolerância zero" legislativa, não importa qual seja, deve sempre ser vista com maus olhos - nem que seja por ser inconscientemente maniqueísta: uma lei que vê em termos de preto e branco, jogando o cinza pras cucuias.
Os números de acidentes cairam, isso é certo. Também é certo que as pessoas andam com mais medo de dirigir e beber. Mas isso já não era possível na lei antiga? Afinal, foi a punição mais rígida que fez com que o andar da carruagem mudasse, e não a falta de tolerância. O aumento de fiscalização, a multa mais pesada, e o fardo criminal; isso sim que fez os números diminuírem, e não a impossibilidade de beber. Quinta-feira mesmo eu fui numa charutaria com o meu irmão, e lá tomei uma taça do vinho do porto. Existem estudos (aqui, aqui e aqui, por exemplo) que dizem que o tal consumo não só é um complemento alimentar, como pode afastar chances de doenças. O consumo MODERADO, lógico. E veja você, se um policial me parasse, e me forçasse a fazer o tal teste do bafômetro, eu seria autuado como um bebum-on-wheels.
(Obs1: você sabia que o nome correto do Bafômetro é Etilômetro?)
(Obs2: Jamais um sujeito que recusa se submeter ao teste do bafômetro, ou ainda, a ceder sangue para exame clínico, pode ser detido como se fosse criminoso. A nossa Carta Magna prega a presunção de inocência e o princípio de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo — “Nemo tenetur se detegere”, o que deve ser respeitado inexoravelmente. Trocando em miúdos: essa lei ainda é inconstitucional, já que se você se negar a atestar o nível de cana no sangue, você entra em... cana.)
O excessivo é ruim em tudo. Dinheiro demais, até. É lógico que se o caboclo beber, não deve dirigir. Mas eu me pergunto como uma sociedade que permite ser cerceada desse jeito algum dia espera alcançar a civilidade e cidadania? Se não começarmos a pensar no correto por nós mesmos, e agirmos como um povo civilizado, a resposta sempre vai ser no governo fazendo cortes demográficos, baseando-se sempre pela base da pirâmide. Um povo burro precisa de leis burras. E se você precisa de uma lei intolerante para deixar de beber e dirigir, precisa repensar a sua vida.
Esse é o tipo de pessoa que o Coringa contava que tivesse dentro daqueles barcos, na cena final do filme. O tipo de cara que não consegue beber (ou qualquer outra coisa, na verdade) com moderação, e precisa da falta de tolerância para se colocar na linha, com certeza apertaria aquela bomba antes da meia-noite. E numa nota mais pessoal, esculhambou com a minha charutada de quinta!
Se você não viu o filme, recomendo que vá. LOGO. E aproveite e pare de ler esse post, pois eu vou publicar alguns spoilers.
O Coringa é, no filme, como ele mesmo se denomina, um agente do caos. Seu passado não é contado a não ser pelas versões conflitantes que ele mesmo informa. O desafio que ele trás ao Batman e à própria Gotham City é em forma de testes de moral e em como resistir ao puro terror criado por um homem que não tem nada a perder; que busca apenas desestabilizar o status quo, mostrando que coisas como planos e regras - por mais grotescas que sejam - sempre são melhor aceitas do que a aleatoriedade pura. Mesmo que o plano seja idiota, as pessoas o aceitam por pura apatia, já que planejamentos são mais reconfortantes do que o sentimento do caos instaurado. Ou ao menos é o que ele acha.
E essa linha de raciocínio, sem motivo algum que não o mais puro processo inconsciente, me fez pensar nessa nova lei seca.
"Lei seca?", você pergunta. E sim, eu digo. Uma lei dessas me parece ser um exemplo de coisa exdrúxula que o povo aceita só porque "it's all part of the plan", como o palhaço do crime diz. Sabe, minha mãe e meus professores fizeram questão de perder um baita de um tempo tentando me ensinar o significado de tolerância, para que venha uma lei com o apelido de "tolerância zero"? Bah!
Pra quem não sabe, a palavra vem do latim tolerare, e significa sustentar, suportar. O termo define o grau de aceitação diante de um elemento contrário a uma regra moral, cultural, civil ou física. Daí vem a famosa tolerância a dor, por exemplo. Já uma "tolerância zero" legislativa, não importa qual seja, deve sempre ser vista com maus olhos - nem que seja por ser inconscientemente maniqueísta: uma lei que vê em termos de preto e branco, jogando o cinza pras cucuias.
Os números de acidentes cairam, isso é certo. Também é certo que as pessoas andam com mais medo de dirigir e beber. Mas isso já não era possível na lei antiga? Afinal, foi a punição mais rígida que fez com que o andar da carruagem mudasse, e não a falta de tolerância. O aumento de fiscalização, a multa mais pesada, e o fardo criminal; isso sim que fez os números diminuírem, e não a impossibilidade de beber. Quinta-feira mesmo eu fui numa charutaria com o meu irmão, e lá tomei uma taça do vinho do porto. Existem estudos (aqui, aqui e aqui, por exemplo) que dizem que o tal consumo não só é um complemento alimentar, como pode afastar chances de doenças. O consumo MODERADO, lógico. E veja você, se um policial me parasse, e me forçasse a fazer o tal teste do bafômetro, eu seria autuado como um bebum-on-wheels.
(Obs1: você sabia que o nome correto do Bafômetro é Etilômetro?)
(Obs2: Jamais um sujeito que recusa se submeter ao teste do bafômetro, ou ainda, a ceder sangue para exame clínico, pode ser detido como se fosse criminoso. A nossa Carta Magna prega a presunção de inocência e o princípio de que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo — “Nemo tenetur se detegere”, o que deve ser respeitado inexoravelmente. Trocando em miúdos: essa lei ainda é inconstitucional, já que se você se negar a atestar o nível de cana no sangue, você entra em... cana.)
O excessivo é ruim em tudo. Dinheiro demais, até. É lógico que se o caboclo beber, não deve dirigir. Mas eu me pergunto como uma sociedade que permite ser cerceada desse jeito algum dia espera alcançar a civilidade e cidadania? Se não começarmos a pensar no correto por nós mesmos, e agirmos como um povo civilizado, a resposta sempre vai ser no governo fazendo cortes demográficos, baseando-se sempre pela base da pirâmide. Um povo burro precisa de leis burras. E se você precisa de uma lei intolerante para deixar de beber e dirigir, precisa repensar a sua vida.
Esse é o tipo de pessoa que o Coringa contava que tivesse dentro daqueles barcos, na cena final do filme. O tipo de cara que não consegue beber (ou qualquer outra coisa, na verdade) com moderação, e precisa da falta de tolerância para se colocar na linha, com certeza apertaria aquela bomba antes da meia-noite. E numa nota mais pessoal, esculhambou com a minha charutada de quinta!
Um comentário:
Discordo... Acho a Lei muito boa!
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