setembro 05, 2006

Piratas Modernos

Sabem, eu sempre quis ser um pirata.

A minha mãe - que é da religião espírita - acredita em reencarnações. Eu sempre digo pra ela que eu acho que já fui um pirata, pois adoro o mar, os barcos e a idéia da vida desregrada. Mas eu acho que fui um pirata realista, nada do tipo de Jack Sparrow, engraçadinho, e sim daqueles que amarravam as suas tripas em bolas de canhão e as atirava ao longe como punição. Piratas engraçados são bons só em filmes. Eu devo ter sido alguém como o Barba Negra ou como o Bart Roberts - de engraçado, só o jeito de falar "aye!" e "Harrr!" e quando bêbado de rum.

E então, nessa experiência parcialmente psicografada, eu imaginei um paralelo daquela vida com a vida de hoje, do homem moderno. Percebi que temos muito que aprender com os piratas, e da mesma forma, ser gratos que evoluímos dos oceanos e das hostilidades notórias!

Imagine, por exemplo, uma mudança de gerência na época dos piratas. Nada de "olha, devido ao oversizing da empresa, vamos lhe transferir" ou "precisamos de um novo foco administrativo". Mudança de gerência naquela época era só através do motim! Afinal, o único parecido com um gerente por lá era o Capitão do barco e seu imediato. Se os homens achavam que estavam sendo injustiçados, que lhes arrancassem as cabeças! A única coisa que impedia isso era o medo; bons capitães eram aqueles que dosavam o medo com competência e lucros. Hoje em dia não, bons líderes são aqueles que dosam competência com amabilidade.

Imagine também como eram as disputas hostis. Nada de tomadas de ações, liquidar o marketshare, ou até mesmo forçar um truste ilegal. Lá naquela época, isso era feito a tiros de canhões! Quando o chumbo acabava, a solução era bater um barco no outro, e abordar o inimigo portando facas nos dentes e cutelos nas cinturas, e matá-lo antes que ele lhe matasse! Já imaginou funcionários da IBM lançando coquetéis Molotov nos prédios da Microsoft?! Ou os caras do help-desk indo em gangues de 30, armados com capuzes e porretes com pregos até os prédios vizinhos? As ruas da Avenida Paulista em São Paulo seriam as novas águas do Caribe!

E a divisão de lucros? Antes, era simples: pegavam todos os dobrões de ouro que tinham conseguido juntar, pagavam os consertos do navio, davam a maior parcela ao Capitão, e dividiam tudo igualitariamente. Hoje em dia, você tem sorte se a divisão de lucros da sua empresa te dá um salário extra, e sempre tem que amargar isso ser atrelado a seu cargo, recebendo menos do que a pessoa acima na hierarquia - como se você, caixa do banco, trabalhasse menos do que o gerente, e por isso recebesse menos também (se isso fosse naquela época, era motim na certa).

E as férias?! Isso sim é de se invejar. Quando um funcionário hoje tira férias, ou ele fica em casa para não gastar, ou faz uma viagem das comuns - vai pra casa da avó em Pirassununga, visita os parentes em Sorocaba; talvez, se for mais arrojado, vai numa temporada de carnaval em Porto Seguro. Já os piratas iam pro Caribe! Eles tiravam férias na Jamaica, em Aruba, ou em Havana! Iam pra Tortuga, aonde enchiam a cara de rum, saíam com um monte de messalinas e festejavam o tempo todo! As férias dos piratas só não causam inveja aos Rolling Stones, e olha lá, porque o Mick Jagger já ta velhão e sossegado.

E qual o preço dessa vida? Passar meses sem ver mulher, cercado num barco apertado cheio de homens, comendo apenas frutas secas e bolachas e tendo escorbuto. Quase nenhuma diferença de hoje em dia, aonde ao invés do barco apertado, temos baias minúsculas, também cheias de machos, comendo fast-food e cafezinho de escritório, rezando pra que uma estagiária ou secretária gostosa nos dê bola.

Deveríamos ter uma escolha na reencarnação, podendo voltar no tempo também, ao invés de só ir para frente - eu aceito o escorbuto numa boa, me levem de volta pro mar!

Haaaarrr!!

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