dezembro 24, 2014

Minha primeira tatuagem!

Finalmente, fiz uma tatuagem!

(fotos abaixo do texto)

Há anos, literalmente, eu quero fazer uma. Sempre achei bonito, sempre achei legal. Mas também sempre achei que ia me cansar do desenho, me arrepender e também sempre achei desenhos mais interessantes conforme os anos foram passando. De tanto achar, nunca fiz.

Antigamente, eu via toda tatuagem como uma experiência engrandecedora, um misto do ápice da expressão pessoal aliada à arte. Ou alguma baboseira assim. Acreditava que toda tatuagem deveria ter um grande significado, e aquelas feitas somente por estética eram "bobas".

No fim, bobo era eu.

Minha vida tinha algum significado especial? Minhas atitudes? Não. Então eu é que era imaturo ao julgar as importâncias alheias. A boa notícia é que a maturidade chega e a gente muda. As vezes pra melhor. Mesmo que você pense hoje como eu pensava antes, não é uma censura. É que eu sinto que me desprendi - mais uma vez - de algo inútil pra mim. Ufa. Faz o que quiser no teu corpo, caceta.

Passei a ver cada tatuagem de forma mais leve, Pode ter um significado. Pode não ter. Pode ser aquela coisa que hoje você ama muito mas depois de uns anos se arrepende; como aquela cicatriz lembrando de um feito heróico, acidente ou experiência nova que também deixou marcas físicas. Indeléveis. Hoje eu já não tenho mais medo de tatuar um desenho que eu me desinteresse com o passar dos anos... ele estará lá como as outras vergonhas, arrependimentos, acertos e louros da minha vida, me lembrando de como fui e de que - tomara! - eu tenha novamente mudado para melhor.

Assim, um dia, deixei de achar.
Fui lá e fiz.

Escolhi uma Jolly Roger, uma bandeira pirata, vontade velha que eu tinha. Juntei a vontade velha com a mentalidade nova: a Jolly Roger é a mais tradicional bandeira pirata inglesa, uma caveira e ossos cruzados brancos sobre um fundo preto. É tão famosa que tem como fonte no nosso computador, ó: 

A origem do nome é incerta. 'Jolly Roger' era um termo genérico para "um homem despreocupado e jovial" pelo menos desde o século 17 e o termo existente parece ter sido aplicado ao esqueleto ou caveira sorridente da bandeira lá pro início do século 18. Piratas usaram variações do desenho como símbolo próprio, precursor de mau agouro, símbolo de morte e pilhagem. O desenho que eu escolhi é uma variação da original, com duas espadas ao invés dos ossos cruzados; essa era a jolly roger do pirata conhecido como Calico Jack Rackham. Ele é lembrado por dois motivos: pelo design de sua bandeira, hoje popular, e por ter tido duas mulheres na tripulação, coisa rara. 

Com o fim da pequena aula de história, eu tinha um desenho. Gosto dos muitos conceitos e definições da minha tatuagem, e vou escrever aqui pra facilitar toda vez que alguém me perguntar "o que significa". Significa, caríssimos, que eu sou (ou me gosto, nascisicamente, de achar que sou) um "um homem despreocupado e jovial". Que eu gosto do mito e da ideia dos piratas românticos (eu encho tanto o saco dos meus amigos com essas brincadeiras, que me rendeu o apelido de "Capitão", entre alguns deles). Que eu acho que antes de ser um símbolo de morte, a caveira é um símbolo de igualdade humana, livre de preconceitos. Debaixo de todas as cores, raças, etnias, sexos, e o que mais o valha, todos somos uma caveira. Ossos. Essa tatuagem é também o meu Memento Mori, gravado na pele, lembrando-me para sempre que um dia eu vou morrer; aquele lance de ponderar e analisar a vaidade da vida terrena e a natureza transiente das posses materiais. Quem disse que algo tão à flor da pele ia ser tão profundo? Rá.

Ela tem espadas cruzadas ao invés de ossos, porquê além de ser o desenho que eu acho mais bonito, as espadas simbolizam força e luta, virtude, bravura e poder, entre outras coisas.

Embaixo de tudo, vem a frase "DEAD MEN TELL NO TALES". Também é um ditado pirata famoso, que diz "homens mortos não contam histórias/contos". Era usado com duas intenções em mente: uma delas uma ameaça e sentença de morte, para que a tripulação não deixasse sobreviventes do saque. Sem sobreviventes, sem testemunhas. A outra face dessa moeda era um lembrete de que toda história, mesmo as mais sangrentas, só eram conhecidas porque alguém havia participado e vivido, escapando do pior final possível para contar. Esperança. Para mim, pessoalmente, é mais: sou um jornalista e literalmente não ter histórias pra contar é morrer. Escrever é o que eu amo. Me sinto morto e vazio sem isso. Ameaça e esperança. Vida e morte. Simples assim.

Os outros componentes da tatuagem são simplesmente estéticos. É no estilo aquarela simplesmente porque eu acho bonito (principalmente para compor um tema náutico. Fitting.). As cores foram escolhidas numa sugestão do meu tatuador, de acordo com as minhas ideias ainda abstratas. As espadas também foram invertidas pela harmonia de tamanho e proporção do meu braço - magrinho, tadinho...

O resto é logística: eu decidi que queria fazer a tatuagem, e passei a pesquisar tatuadores bons, e estilos de arte que eu, leigo total, achasse legal. Encontrei o Victor Otaviano sem querer, numa matéria do Hypeness, e achei totalmente sensacional. Entrei em contato e fiquei atrás dele quase um ano, devida a sua agenda lotada. O cara tem agenda de famoso, mas é gente fina demais, sossegadão. Artista de mão cheia. Recomendo muito!

Dia 06 de dezembro, consegui fazer a tatuagem, numa única sessão de pouco mais de uma hora e meia. Sim, dói. Mas sim, é suportável. Também sangrou um pouco. Tem centenas de pessoas mais preparadas do que eu para te dizer o que fazer quando for tatuar. Segue o basicão: não beba, tome banho e relaxe. Passe a pomada indicada (eu ainda uso a Bepantol Derma). É só cuidar. Dói pra fazer, aí a tatuagem fica linda. Aí descasca, fica opaca e horrível. E depois vai ficando linda de novo - desde que você não coce, e não arranque as casquinhas que fizerem. Só lave com sabonete no banho, passa a pomada sempre que estiver seca, e não mexe mais. Não pega sol por pelo menos um mês. Não entre em piscinas ou no mar. E você vai checando trezentas vezes por dia no espelho, porque é legal bragarai!

Já penso na segunda. Esse negócio vicia!

(Primeira foto da Trupe da Tattoo. Meu irmão e namorada deram apoio moral. Te amo, marujos!)














Segunda foto: a última de braço limpo.





















Terceira foto: under construction.

Quarta foto: finalizada e fresquinha!




















Última foto: no fim ficou assim. Eu achei sensacional! (que é o que vale; afinal, tá no MEU braço, e não no TEU. Hahahaha!) 


















O desenho original:




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